terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Salário mínimo

Mercado de trabalho: "Parabéns! Eu aumentei o salário mínimo!"
(Por Peter Schiff)

Quando algum encanamento da nossa casa entope, qual o procedimento padrão que normalmente seguimos? Fazemos um levantamento de preços com vários bombeiros hidráulicos e contratamos aquele que tem o melhor preço. Se todos os preços forem altos, a maioria de nós irá preferir pegar uma chave inglesa e uma soda cáustica, e fazer o serviço por conta própria. O mercado de trabalho funciona da mesma forma. Antes de contratar outro empregado, o empregador precisa estar certo de que esse novo empregado irá trazer um acréscimo de produtividade que exceda esse custo suplementar (o qual inclui não apenas o salário, mas todos os encargos sociais e trabalhistas, que já não são poucos, veja aqui)

Assim, se um trabalhador pouco qualificado for capaz de contribuir com apenas $6 por hora em termos de aumento de produtividade, tal indivíduo estará desempregado caso o salário mínimo seja fixado em $7,25 a hora.

Os trabalhadores pouco qualificados precisam lutar pelo dinheiro do empregador. E para isso eles têm de disputar tanto com os trabalhadores qualificados quanto com o capital (o maquinário). Por exemplo, se um trabalhador qualificado cobra $14 a hora para fazer um serviço que dois trabalhadores menos qualificados cobram $6,50 cada, seria economicamente sensato um empregador contratar a mão-de-obra menos qualificada. Entretanto, se o governo aumentar o salário mínimo para $7,25 a hora, esses trabalhadores menos qualificados serão "precificados para fora" do mercado de trabalho.

É exatamente por causa dessa dinâmica que os sindicatos são ferrenhos defensores das leis do salário mínimo. Embora nenhum de seus membros receba o salário mínimo, a lei ajuda a protegê-los da concorrência dos trabalhadores menos qualificados. (Sindicato nada mais é do que isso: um cartel protegido pelo estado e que expulsa do mercado de trabalho aqueles trabalhadores menos qualificados - ao mesmo tempo em que utiliza a retórica da proteção aos desfavorecidos.)

Os empregadores também têm a opção de empregar máquinas ao invés de pessoas. Por exemplo, um empregador pode contratar uma recepcionista ou investir em um sistema de atendimento automatizado. Ele fará o que for menos custoso. Assim, da próxima vez que você estiver gritando obscenidades ao telefone enquanto tenta dialogar com um computador, você já sabe em quem colocar a culpa por sua frustração.

Há vários outros exemplos de empregadores que substituem a mão-de-obra humana pelo maquinário simplesmente porque o salário mínimo deixou os trabalhadores menos qualificados pouco competitivos. Por exemplo, nos aeroportos, os carregadores de mala foram substituídos pelos carrinhos de mão (embora aqueles ainda existam informalmente). A principal razão por que os restaurantes fast-food utilizam pratos de papel e utensílios de plástico é para não ter de contratar pessoas para lavá-los.

Como resultado, muitos daqueles trabalhos que exigiam pouca qualificação e que costumavam ser o primeiro degrau da escada do mercado de trabalho foram exterminados do mercado. Você consegue se lembrar da última vez que um lanterninha o conduziu até seu assento em um cinema escuro? Qual foi a última vez que alguém - além do indivíduo que fica no caixa - não apenas empacotou suas compras no supermercado, mas também as levou até seu carro? Por falar nisso, não demorará muito para que os próprios caixas sejam "precificados para fora" do mercado e substituídos por scanners automáticos, fazendo com que você tenha de empacotar suas comprar sem qualquer ajuda. Você pode até ser capaz disso, mas e as pessoas de mais idade?

O desaparecimento desses empregos traz consequências econômicas e sociais mais amplas. Os primeiros empregos que conseguimos são um meio de aperfeiçoarmos nossas habilidades, de modo que trabalhadores menos habilidosos possam adquirir experiência e, com isso, oferecer maior produtividade para seus empregadores atuais ou futuros. À medida que suas habilidades aumentam, o mesmo ocorre com sua capacidade de obter salários maiores. Entretanto, remova o degrau mais baixo da escada do mercado de trabalho e muitos nunca mais terão a chance de subir nela.

Portanto, quando você mesmo tiver de abastecer seu carro em um posto sob chuva, não pense apenas naquele adolescente que poderia estar fazendo isso pra você; pense também no mecânico que ele poderia ter se tornado, caso as leis do salário mínimo não lhe tivessem negado um emprego. Vários mecânicos de automóveis aprenderam segredos de seu ofício quando trabalhavam como frentistas. Entre uma abastecida, uma lavagem e uma calibragem de pneus, eles passavam boa parte de seu tempo auxiliando os mecânicos e aprendendo com eles. Isso vai acabar.

Como o salário mínimo impede que muitos jovens (inclusive um número desproporcional de minorias) consigam empregos básicos, eles nunca poderão desenvolver as habilidades necessárias para aspirar a empregos que paguem melhores salários. Como consequência, vários recorrem à criminalidade, enquanto outros recorrem ao assistencialismo governamental.

Defensores do salário mínimo argumentam que é impossível sustentar uma família quando se vive apenas com um salário mínimo. Sim, é verdade. Mas isso é totalmente irrelevante, pois os empregos que pagam salário mínimo não foram feitos para sustentar uma família.

O certo seria que as pessoas optassem por não iniciar uma família até que estivessem ganhando o suficiente para sustentá-las. Empregos de baixos salários servem para capacitar os trabalhadores a, com o tempo, adquirirem as habilidades necessárias que os permitirão ganhar salários altos o suficiente para sustentar uma família. Será que alguém realmente acha que um adolescente que trabalha como entregador de jornal deveria ganhar um salário capaz de sustentar uma família?

A única maneira de se aumentar salários é aumentando a produtividade. Se os salários pudessem ser aumentados simplesmente por decreto governamental, poderíamos determinar o salário mínimo em $10.000 por mês e todos os problemas estariam resolvidos. Já deve estar claro para todos que, nesse nível, a maioria da população perderia seus empregos, e a mão-de-obra remanescente seria tão cara que os preços dos bens e serviços iriam disparar. Este é exatamente o fardo que as leis de salário mínimo impõem aos trabalhadores pobres e pouco qualificados - e, em última instância, a todos os consumidores.

O salário mínimo, como toda regulamentação, é uma proibição. Especificamente, é proibido contratar uma pessoa para realizar qualquer trabalho por menos que aquele valor. Isto nada mais é do que uma proibição clara e direta do trabalho.

Dado que nossos líderes não conseguem compreender sequer este simples conceito econômico, por que ainda há pessoas que acreditam que eles irão solucionar os problemas econômicos bem mais complicados que nos assombram atualmente?

14 comentários:

  1. Não é bem assim. Como em todo texto libertário, não são investigados os argumentos contrários, uma prática que fere mortalmente os princípios para se estabelecer um diálogo. O salário mínimo tem como função auxiliar o trabalhador a ter um poder de barganha que antes ele não possuia e que o deixava em posição menos favorável em negociações salariais. Vejamos, se você aceita começar a trabalhar com um salário muito baixo porque não sabe desempenhar a função, logo vai se tornar experiente e vai querer mais. O que seu chefe poderá fazer neste caso? Ele pode te dar um aumento abaixo da sua expectativa porque a fila de pessoas atrás de você que aceitariam trabalhar pelo que você recebe está grande.
    Se libertários estudassem seriamente saberiam que um dos marcos para a construção de sociedades civilizadas foi o surgimento de regras escritas que regulamentavam as interações humanas com o propósito de deixá-las mais justas para todas as partes. O mínimo que se espera de um texto digno de ser respeitado é que se coloque as origens do salário mínimo e se coloque os principais argumentos de seus defensores e que tente demonstrar porque seus argumentos são melhores.
    Agora outro ponto. Se sindicatos se organizam para tentar manter os novatos longe da vaga deles, então eles estão tentando abusar de um direito que eles têm. Não se segue disso que o salário mínimo deva ser abolido, mas sim que deva ser repensado para evitar o abuso que ocorre. Não que eu defenda a não-abolição do sm, mas sim que este argumento não serve como defesa. Aliás, se a primeira lei da cartilha libertária é ignorar pontos de vista contrários, a segunda é abusar de raciocínios do tipo "tem defeito, logo deve ser abolido".
    E existe uma falta de coerência entre a teoria defendida por Schiff e seus exemplos. Quando um restaurante usa prato descartável ou um supermercado não contrata mais carregadores, eles estão sendo manipulados por qual sindicato? Quem são os profissionais mais experientes que estão sendo beneficiados? Além do mais, ele coloca como se fosse o salário mínimo o único culpado pela extinção destes empregos, mas será? Não estariam em jogo também mudanças nos hábitos e cultura da sociedade, que agora não exige mais carregadores nem pratos de porcelana? Não estaria em jogo também a sociedade ter se tornado muito consumista, fazendo pressão para que supermercados e restaurantes ofereçam sempre preços cada vez menores? Parece que para Schiff, o único vilão é o salário mínimo!
    Além disso, olhemos por exemplo o caso dos utensílios descartáveis. Oras, eles não precisam ser lavados, mas eles não se fabricam sozinhos. E se antes precisávamos de x pessoas para fazer y pratos de porcelana, hoje precisaremos de 5x para fazer 10y pratos descartáveis. Isso se chama realocação e qualificação de mão-de-obra. O que salvou MESMO as primeiras sociedades industrializadas não foi o socialismo, mas foi justamente a realocação e qualificação da mão de obra, efeito da introdução da tecnologia nos meios de produção. Mas na primeira oportunidade vocês "esquecem" isso...
    Quanto ao aumento do salário mínimo. Sim, é um fato de que isso tem suas desvantagens, a ponto de que uma canetada levaria a sociedade ao colapso. Não vejo com maus olhos os reajustes com base na inflação, mas também fico com medo quando o governo aumenta o sm acima da inflação. Gostaria de acreditar que uma equipe de economistas sérios concluiram que isso era possível, mas em se tratando de um governo que tende a ser populista e sabendo que este ano tem eleições presidenciais, fica difícil.
    Mas mais uma vez, se o governo tem políticas ruins de salário mínimo, não significa que este deva ser extinto.
    Duas observações: 1) você conhece a lei do aprendiz? 2) sendo impossível viver em um mundo sem proibições, prefiro que elas sejam formais mas discutíveis democraticamente do que informais e discutíveis apenas na base do poder.

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    1. Em primeiro lugar, o escopo do post é apresentar o ponto de vista libertário; não produzir um tratado expondo aspectos históricos e todos os argumentos contrários — embora tenha procurado responder aos principais deles. Nada impede, de qualquer forma, que eles sejam expostos aqui nos comentários para debate.

      "O salário mínimo tem como função auxiliar o trabalhador a ter um poder de barganha que antes ele não possuia e que o deixava em posição menos favorável em negociações salariais."

      Isto enquanto o salário mínimo não precificar pra fora o próprio trabalhador, deixando-o em posição desfavorável na vida.

      O verdadeiro poder de barganha de um trabalhador é sua produtividade e qualidade. Não é o mero fato de haver uma fila de trabalhadores que impediu o aumento esperado pelo trabalhador: foi o fato de que tais trabalhadores da fila eram tão qualificados (ou desqualificados) quanto ele. Então por que esse trabalhador específico mereceria sequer ganhar mais do que os da fila, se faz a mesma coisa que os eles?

      No seu exemplo, o trabalhador pleiteou o aumento salarial com base na experiência adquirida (produtividade e qualidade), mas recebeu um aumento "abaixo de sua expectativa". Pode-se dizer que o aumento foi injusto só porque ficou aquém da "expectativa" (fundamentada sabe-se lá em quê) do trabalhador? Não.

      O aumento salarial que receber será o equilíbrio entre o valor baixo demais (que faria o empregador perder o trabalhador) e o valor alto demais (acima do ganho que o trabalhador efetivamente traz). Preços formados em relações livres podem não ser o ideal imaginado unilateralmente por uma das partes, mas serão o preço justo para ambas.

      "Não vejo com maus olhos os reajustes com base na inflação, mas também fico com medo quando o governo aumenta o sm acima da inflação."

      Lembrando que o governo só precisa executar este ajuste porque ele mesmo causa a inflação. Agora, aumentos iguais à inflação não são aumentos reais do salário mínimo, o aumento é apenas no valor nominal, não no poder de compra real — o que significa que não é aumento algum.

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    2. "Quando um restaurante usa prato descartável ou um supermercado não contrata mais carregadores, eles estão sendo manipulados por qual sindicato?"

      Shiff não diz que tais substituições foram resultados de manipulação sindical. Ele diz que a causa disto é o aumento no salário mínimo que tornou inviável a contratação de pessoas que lavariam pratos ou carregariam mercadorias. Se há algum papel do sindicato nisso, seria indireto, por militar constantemente pelo aumento do salário minimo.

      "mas sim que deva ser repensado para evitar o abuso que ocorre."

      Esse é o argumento padrão para qualquer cagada legislativa: é preciso "pensar melhor" e criar mais leis para evitar os problemas das anteriores. Está aí o Brasil com uma legislação gigantesca, cada vez mais burocrática, mas com os mesmos problemas de sempre.

      "Além do mais, ele coloca como se fosse o salário mínimo o único culpado pela extinção destes empregos, mas será?"

      Na verdade ele disse que é a "PRINCIPAL razão", não a única. Leia lá. De qualquer forma, as mudanças que você citou são integrantes do mesmo fenômeno: o fato de as pessoas não se importarem mais com pratos de porcelana apenas ajuda o trabalho dos lavadores a valer menos — e ser ainda mais facilmente precificado para fora pelo salário mínimo.

      "a sociedade ter se tornado muito consumista, fazendo pressão para que supermercados e restaurantes ofereçam sempre preços cada vez menores"

      Entendo por consumismo a necessidade, natural ou fabricada, de consumir apenas pelo ato de comprar, não pelo efetiva capacidade daquele bem em satisfazer uma necessidade do comprador, que inclusive muitas vezes já estava sendo satisfeita pelo bem anterior. Isso nada tem a ver com buscar preços baixos. Eles são o resultado da vontade das pessoas em otimizar seu poder de compra e da disposição dos empreendedores em reduzir custos ou lucros a fim de atenderem-na. É graças a esses mecanismos que os pobres podem ter acesso a cada vez mais bens.


      Eu não acho que qualquer destes argumentos que você trouxe merecessem estar no post principal, mas se tiver outros pode trazer aí...

      Att.
      MP

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    3. Primeiro, duas considerações: este espaço para comentários é péssimo e eu detesto esta forma de resposta do tipo "cita e responde": acho tosco.

      Não desejar apresentar um tratado filosófico é desculpa para mediocridade. Se você admite postar material medíocre, não deveria ser tão seletivo assim na hora de determinar o que merece estar no post principal por aqui, ou senão admitir também que só coloca o medíocre que gosta mais. De qualquer forma, atender aos critérios mínimos de argumentação não significa escrever tratado de filosofia, e sua dicotomia "ou faz um tratado um filosófico ou fica medíocre" soa pueril e trai seu despreparo para ter um blog que discute os temas que você discute.

      Sobre como determinar o salário justo. Quando você diz "O verdadeiro poder de barganha de um trabalhador é sua produtividade e qualidade." para justificar seu modelo diante o meu exemplo, você ignora (pra variar) a questão das contingências geográficas/temporais. Se eu não posso aumentar meu salário porque muitas pessoas fazem o que eu faço, ou estão dispostas a fazer o que eu faço, então meu poder de barganha não está na minha produtividade! Talvez no mundo da imaginação utópica dos libertários, todo empregador seja inteligente e só enxergue produtividade, mas o mundo real tem espaço para uma maioria ignorante e para problemas de contingência que minimizam o poder de barganha da produtividade.

      Vou subdividir essa narquia em 1000 partes, porque não quero ter que ficar picotando raciocínio ao meio por causa desse limite de caracteres.

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    4. Outra questão sobre o salário justo e que me deixou bastante irritado. Você fica me ironizando porque eu não apresentei fundamentação para a expectativa, mas sua ironia se volta para você revelando o quão ignorante, contraditório, despreparado e hipócrita você é.

      O contexto revela claramente que a expectativa é baseada em produtividade. Se do dia que comecei meu treinamento até hoje eu dobrei minha produtividade, eu espero dobrar meus ganhos salariais. Justo, não?

      Injusto é deixar com que demandas contingentes permitam que um lado tenha vantagens sobre o outro. Se você é mais produtivo que seu melhor amigo, mas existe mais mão-de-obra disponível na sua área do que na dele, é injusto que ele receba mais do que você. Você não tem culpa de ser mais talentoso no que paga pior. E ele não merece ganhar bem mesmo sendo incompetente só porque não tem ninguém melhor.

      Você é ignorante porque não extraiu minha fundamentação do contexto. Contraditório porque rebateu meu argumento de que a expectativa é baseada em produtividade mesmo tendo declarado anteriormente que "O verdadeiro poder de barganha de um trabalhador é sua produtividade e qualidade.". Despreparado por ignorar a existência do problema das contingências e todas as consequências decorrentes. E hipócrita por taxar como justo um sistema tão anti-meritocrático como o que propõe.

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    5. Enfim, o ideal, penso eu, seria se salários fossem determinados majoritariamente por produtividade. Entretanto, isso não é possível de ser implementado na prática. (Não tente me ironizar de novo perguntando de onde tirei isso porque já falei nos comentários anteriores.)

      Deixar com que o mercado o regule livremente é ignorar a existência deste problema. É tampar as orelhas e começar a gritar "liberdade individual" mesmo sem entender bem o que se passa.

      Não existe meritocracia em um sistema que permite que empregadores abusem do excesso de contingente (algo que ele não contribuiu para existir) para maximizar seus ganhos impondo uma relação salário/produtividade baixíssima à sua revelia. Neste ponto de vista, o salário mínimo se torna um mecanismo justo.

      Evidentemente, nos casos em que a mão-de-obra é escassa a ponto de o trabalhador poder explorar o empregador e impor uma relação salário/produtividade muito alta, sou favorável a criação de mecanismos para defender o empregador e fazer com que o poder de barganha de cada um seja o mais próximo possível daquilo que cada um fez por merecer.

      E sendo o espírito do salário mínimo a compensação de contingências, o abuso que sindicatos fazem da forma escrita da lei é imoral. Erros legislativos ocorrem e devem ser consertados. Seria desculpinha se eu estivesse usando erros legislativos para propor mudanças no "espírito" do salário mínimo, mas eu proponho mudanças no texto para que ele se readeque a este espírito. No auge do seu despreparo em ler o que está escrito, não percebeu isso.

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    6. Sobre o consumismo. Ver o seguinte parágrafo só me faz duvidar seriamente de suas capacidades cognitivas:

      ***
      "a sociedade ter se tornado muito consumista, fazendo pressão para que supermercados e restaurantes ofereçam sempre preços cada vez menores"

      Entendo por consumismo a necessidade, natural ou fabricada, de consumir apenas pelo ato de comprar, não pelo efetiva capacidade daquele bem em satisfazer uma necessidade do comprador, que inclusive muitas vezes já estava sendo satisfeita pelo bem anterior. Isso nada tem a ver com buscar preços baixos. Eles são o resultado da vontade das pessoas em otimizar seu poder de compra e da disposição dos empreendedores em reduzir custos ou lucros a fim de atenderem-na. É graças a esses mecanismos que os pobres podem ter acesso a cada vez mais bens.
      ***

      Não digo isso em um surto de intimidação assertiva, prática comum em debates, mas sim porque sinceramente duvido.

      Você diz que consumismo não tem nada a ver com preços baixos para na frase seguinte dizer que empresários abaixam preços para atender a demanda crescente oriunda do consumismo. Um lapso cognitivo imperdoável, já que o aumento da demanda é, em si, uma pressão por preço baixo conforme enunciei. Além do mais, o mecanismo não é apenas inconsciente, mas também consciente, pois as pessoas de fato EXIGEM menores preços no comércio para poderem consumir mais.

      Se empregos foram perdidos nesta brincadeira, isso faz parte. Da mesma maneira como "faz parte" da economia a perda de empregos devido à introdução da tecnologia na cadeia produtividade. Como bem sabemos, nenhum emprego foi perdido, mas sim realocado. O que me impressiona é os libertários falarem em realocação em certas situações, mas demonizarem a perda de emprego gerada pelo salário mínimo se este também faz realocação e se existem outras variáveis envolvidas, como o consumismo. Isto se chama hipocrisia.

      O mais engraçado, por fim, não deixa de ser a tentativa de lição de moral no fim. Como se eu fosse um esquerdista demonizando o consumismo e merecesse escutar que graças a ele agora pobre pode comprar mais! O consumismo pode até ser um pouco degradante à condição humana como valor, mas que prestou utilitariamente um bom serviço a todos nós isso é inegável. Kant condenaria o consumismo com um certo grau de razão, mas não por motivos econômicos. Ops, esqueci que estou falando com um analfabeto em filosofia moral. Desculpe, sei que você não lê o suficiente para entender o que estou falando. Pena que não tem como apagar o que já foi escrito né?

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    7. "este espaço para comentários é péssimo"

      Alguma sugestão?

      "e eu detesto esta forma de resposta do tipo "cita e responde": acho tosco."

      tá.

      "Se eu não posso aumentar meu salário porque muitas pessoas fazem o que eu faço, ou estão dispostas a fazer o que eu faço, então meu poder de barganha não está na minha produtividade!"

      Para aumentar seu salário em relação AO DOS OUTROS, obviamente você precisa ter uma produtividade individual maior que a desses outros. Ainda assim, note, continua sendo baseado em produtividade. Já se houver um aumento na produtividade geral, os salários gerais, mantido tudo o mesmo, tenderão a aumentar. Novamente, continua baseado na produtividade.

      O problema é que o salário mínimo é um aumento GERAL nos salários, que não necessariamente corresponde a um aumento GERAL na produtividade de cada um dos trabalhadores. Nem tem como ser. É justamente por isso que acontece a precificação para fora daqueles que não obtiveram ganhos de produtividade.

      Seu julgamento de justiça e meritocracia se baseia numa noção de trabalho como fundamento do valor. Entretanto, o fato de alguém ganhar mais por trabalhar numa área com menos oferta do que demanda é apenas o mercado, ou seja, as outras pessoas, buscando atrair mais ofertantes para aquela demanda, tendendo ao equilíbrio. Eles estão sinalizando, através dos preços que estão dispostos a pagar, qual alocação de mão-de-obra e quais serviços valorizam mais num dado momento.

      "Você não tem culpa de ser mais talentoso no que paga pior"

      Ora, menos culpa ainda tem o consumidor por você ser muito talentoso ou esforçado num serviço que ele não quer tanto assim, em que há mais oferta do que demanda. Como eu disse, preços formados em relações livres podem não ser o ideal imaginado unilateralmente por uma das partes (como o sujeito muito talentoso numa área saturada de gente tão talentosa quanto ele), mas serão o preço justo para ambas.

      Críticos do mercado sonham com centralizações que vão corrigir as "injustiças" do capitalismo, embora tal controle não possa ser exercido de forma tão dinâmica e democrática quanto as sinalizações que cada indivíduo já dá, a cada decisão que toma. Nem mesmo o "espírito" das legislações que defendem é justo como alegam.

      O salário mínimo, com seu efeito de precificar para fora profissionais, é apenas mais um exemplo disso.

      Att.
      MP

      PS: calma aí fera, cê tá muito exaltado.
      PPS: jamais disse que, por o escopo do post ser expor o ponto de vista libertário, isso o legitimava a ser medíocre ou a não antender "aos critérios mínimos de argumentação". Por favor, não invente falsas dicotomias onde não tem. Grato.

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    8. "Você diz que consumismo não tem nada a ver com preços baixos para na frase seguinte dizer que empresários abaixam preços para atender a demanda crescente oriunda do consumismo."

      Na verdade não. Eu disse que "Eles [os preços baixos] são o resultado da vontade das pessoas em otimizar seu poder de compra e da disposição dos empreendedores em reduzir custos ou lucros a fim de atenderem-na [a vontade de otimizar o poder de compra]". Esta vontade é distinta do consumismo: uma pessoa pode ser consumista e esbanjadora (ex: funk ostentação) enquanto outra pode ser consumista e pão dura (ex: viciados em vales, nos EUA), ou não ser consumista e mesmo assim querer preços baixos (ex: Julius, pai do Chris).

      Não é problema nenhum você entender errado o que falo, mas talvez ajude se você se concentrar mais em ler do que em me atacar ou aos libertários (qual a necessidade disso, afinal?)

      Att.
      MP

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  2. "Como eu disse, preços formados em relações livres podem não ser o ideal imaginado unilateralmente por uma das partes (como o sujeito muito talentoso numa área saturada de gente tão talentosa quanto ele), mas serão o preço justo para ambas."

    Desculpe, eu acabei de fazer três comentários para repelir essa ideia e tudo que você faz é repetir? (isso já tinha sido escrito)

    Depois não ache ruim quando digo que libertários ignoram objeções contrárias. Um preço é justo quando nenhuma das partes se aproveita de vantagens das quais não merece. A sua proposta ignora a meritocracia. Eu disse isso claramente e não gostaria de ter de colocar isso pela terceira vez. Lide com esta objeção ao invés de simplesmente repetir quase que com as mesmas palavras o que já foi colocado.

    Outra coisa, se você diz que não pretende colocar um tratado filosófico que lide com as argumentações contrárias, então está admitindo que posta textos medíocres. Medíocre não é sinônimo de ruim. O prefixo medío vem de médio, que significa, como você bem sabe, médio, ou seja, o que você posta é só mediano.

    Este texto não é um manual interno didático dos libertários, mas antes de mais nada um material argumentativo em apologia a tal ideologia político-econômica. Ele tenta convencer o leitor, de maneira inegavelmente explícita, que o salário mínimo deve ser abolido. Mas considero que qualquer argumentação honesta deva levar em conta os argumentos contrários, pelo menos o mais forte deles. Imagina eu dizer a um adolescente de 12 anos que ele não deve fazer sexo porque isso pode causar doenças. Eu estaria sendo desonesto com ele por esconder que existem formas de se prevenir destas doenças e que o prazer é muito grande. E, vejam só!, você está aqui dizendo justamente que o SM deve ser abolido por seus problemas e eu estou dizendo que você está sendo desonesto ao esconder que existem formas de minimizá-los e que os benefícios podem compensá-los.

    Enfim, voltei aqui para postar uma última objeção (e fico aguardando você responder *de fato* as que já estão colocadas.)

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    1. "se você diz que não pretende colocar um tratado filosófico que lide com as argumentações contrárias"

      Só que eu jamais disse isso. Leia de novo minha primeira resposta.

      "qualquer argumentação honesta deva levar em conta os argumentos contrários, pelo menos o mais forte deles"

      Basicamente o que o post faz — e apesar da sua discordância quanto a isso, ainda não acho que algum "argumento mais forte" do que os que ele considera tenha ficado de fora.

      "Um preço é justo quando nenhuma das partes se aproveita de vantagens das quais não merece. A sua proposta ignora a meritocracia."

      Como eu já disse, seu julgamento de justiça e meritocracia se baseia numa noção de trabalho como fundamento do valor, como se mérito fosse "fazer esforço", "suar a camisa". Jamais defendi isso. Numa economia capitalista, baseada em trocas voluntárias, mérito é melhor atender as necessidades dos clientes, pouco importa se com muito ou pouco suor no processo. Assim, é perfeitamente justo que uma pessoa ganhe mais por atender uma demanda para a qual há pouca oferta, do que uma pessoa "muito esforçada" ou "muito talentosa" num mercado já saturado com tantos outros de igual capacidade, ou desempenhando muito bem uma atividade pouco demandada.

      "existem formas de minimizá-los e que os benefícios podem compensá-los."

      Você não mostrou nenhuma delas, nem como alguma delas poderia evitar o efeito de precificação para fora de profissionais causado pelo SM. Tampouco mostrou algum comparativo de custos em que os "benefícios compensasem", apenas reclamou por eu não ter postado o argumento que você diz existir mas nem você expõe.

      Att.
      MP

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  3. A objeção final que desejo colocar é que nem sempre é possível dar preço ao trabalho pela produtividade, e que a produtividade perde ainda mais importância em certos casos.

    Por exemplo, como avaliar a produtividade de profissões como um empacotador de supermercado, um CEO ou de um esportista? Pouco importa se o empacotador A é 5 s mais rápido que o B para fazer uma mesma tarefa, já que ambos estarão trazendo os mesmos ganhos ao empregador. CEOs são pagos basicamente para tomar decisões, e avaliamos seus desempenhos pelos ganhos delas, e isso não seria exatamente uma produtividade. Esportistas têm como meta primária a prática esportiva e não gerar lucros para o clube em que trabalham. Como falar em produtividade no caso deles?

    Além do mais, devemos pensar também no tempo que uma pessoa levou para se preparar para sua profissão. Médicos e engenheiros ganham mais porque precisaram se preparar mais do que secretárias e balconistas, por exemplo. Não é só a produtividade que entra na jogada.

    Estas duas objeções devem ser respondidas por quem dá tanta importância à produtividade. Como deixar o poder de barganha tão dependente de um conceito tão frágil como a produtividade?

    Aproveito e respondo alguns pontos. Na medida em que as demandas contingentes alteram salários sem alterar as produtividades, eles também precificam por fora. Por que uma pode e a outra não? (Aliás, você parece não ter entendido ainda o que são demandas contingentes....)

    Sobre a questão da produtividade ser parâmetro para definir se você ou seu colega de profissão que vai ganhar mais tudo bem. Mas a situação analisada é bem mais complexa que isso e não vejo como esse seu comentário feito por alto pode te ajudar em alguma coisa.

    Ah, e não podia deixar de responder, fingindo ter 13 anos, esse seu comentário:

    "PS: calma aí fera, cê tá muito exaltado."

    tá.

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    1. Produtividade é o "Rendimento de uma atividade econômica em função de tempo, área, capital, pessoal e outros fatores de produção", ou seja, quanto resultado o indivíduo entrega com determinado esforço. Considerando que "numa economia capitalista, baseada em trocas voluntárias, mérito é melhor atender as necessidades dos clientes", quando falo em ganho de produtividade estou me referindo a um ganho na capacidade de atender tais necessidades — termo melhor talvez fosse "produção".

      "como avaliar a produtividade de profissões como um empacotador de supermercado, um CEO ou de um esportista?"

      Todos os 3 profissionais que você citou, assim como qualquer ofertante num mercado, oferecem um resultado, uma produção relevante a algum demandante, sejam decisões que decidem o destino de empresas inteiras, seja o entretenimento a algumas pessoas que querem apreciar a excelência num esporte, etc. Por mais que haja dificuldades práticas na aferição, ela é possível e executada em tempo integral.

      "Pouco importa se o empacotador A é 5 s mais rápido que o B para fazer uma mesma tarefa,"

      Pode importar ou não. Em 12 empacotamentos a fila no caixa A anda 1min mais rápido que a de B. Em uns 60 atendimentos a diferença, de 5min, será visivelmente perceptível entre os caixas. Pode ser a diferença entre haver fila num caixa e no outro não. Talvez A faça muito menos esforço do que B, até. A questão é: se pouco importa aos consumidores este "ganho", por que eles deveriam pagar a mais por isso?

      "Na medida em que as demandas contingentes alteram salários sem alterar as produtividades, eles também precificam por fora. Por que uma pode e a outra não?"

      Demandas contingentes, pelo que entendo do termo, são apenas outras pessoas tendo ou deixando de ter necessidades eventualmente.

      Os demandantes sinalizam, por meio dos preços, o quanto estão dispostos a pagar por um serviço. Eles podem querer pagar "pouco" ou "muito" (note as aspas), conforme o atendimento daquela necessidade seja menos ou mais prioridade para eles. Dizer que demanda contingente "não pode", ou tratá-la como uma "imperfeição do mercado", é como dizer às pessoas que elas estão erradas ao ter necessidades eventuais, ou querer proibi-las de atender (ou, mais bizarro ainda, de deixar de atender!) a tais necessidades. Isto é um absurdo.

      Já um trabalhador é "precificado para fora" quando os demandantes são proibidos (por uma lei como a do salário mínimo) de pagarem o preço que consideram valer o serviço dele. Mas já vimos que não é "injustiça" ou "falha" alguma que o trabalho desempenhado por alguém não seja prioridade de consumo de outrem. Se é efetivada a troca, é porque o ofertante considera valer a pena trabalhar por aquele valor (se não considerasse, já não aceitaria a proposta por conta própria). Mas porque um terceiro acha que o ofertante recebe "pouco", propõe um SM que o condena a não receber nada. Ofertantes e demandantes perdem. Essa é a injustiça da precificação pra fora. Pior, este efeito é ampliado a cada vez mais trabalhadores à medida em que o SM é aumentado.

      Att.
      MP

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    2. A frase "O salário mínimo condena as pessoas a não receber nada" talvez seja o que mais incomode. Provavelmente a pessoa pensa que um salário mínimo "administrado corretamente" permitiria que "um preço justo" fosse alcançado, SEM precificar ninguém pra fora, gerando apenas um aumento no poder de compra dos trabalhadores.

      O problema deste raciocínio é que, como toda tentativa de manipular a economia, ele é míope. Vejamos.

      Se João pagava 500 reais à sua empregada e o salário mínimo é elevado a 650, 2 coisas podem acontecer:

      1- Joãozinho simplesmente vai deixar de ter empregada ("Por 650 reais eu mesmo limpo minha casa!") -> precificação pra fora.
      2- Joãozinho vai pagar os 650 reais

      Em 1, claramente houve prejuízo às partes. Agora Joãozinho está sem o serviço que queria e a empregada está sem o salário, pelo qual julgava a pena trabalhar (se não julgasse ela mesma já não aceitaria a proposta, por conta própria).

      Em 2, a "situação ideal", pode parecer que houve ganhos, mas isto se mostra falso quando, como dizia Bastiat, consideramos "o que não se vê".

      Aquilo que se vê é que a empregada agora tem 150 reais a mais no bolso. Maravilha.

      O que não se vê é que o salário de João (que já estava acima do mínimo) não aumentou junto: estes 150 reais apenas deixarão de ir para outros trabalhadores: talvez João não possa mais fazer um churrasco no fim de semana, talvez vá menos ao cinema, talvez compre menos roupas. O açougueiro, os trabalhadores do cinema e o alfaiate perderam. João perdeu, pois terá acesso a menos bens.

      Mas e a empregada, será que ganhou?
      Bom, é preciso lembrar que não foi só a empregada de João que passou a ganhar 150 reais a mais: todos os indivíduos que não foram precificados pra fora agora receberam um aumento — e, isso é fundamental, um aumento que nenhum deles conquistou voluntariamente, por meio de um efetivo aumento na produção de riqueza, e sim por canetada. Ou seja, a quantidade de dinheiro no bolso das pessoas aumentou mas a quantidade de produtos nas prateleiras dos supermercados não. Isso significa simplesmente o efeito de inflação (como descrito aqui: http://matrixpolitica.blogspot.com.br/2013/06/passagens-de-onibus-estadios-de-futebol.html).

      Resultado: Algumas pessoas perderam os empregos e não houve aumento algum no poder de compra das que tiveram os salários reajustados.

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