Aproveitando o assunto, você sabia que mais de 30% do valor dos remédios no Brasil é imposto? E isto prejudica justamente os mais pobres. |
Segundo algumas pessoas, o capitalismo faz com que as empresas prefiram vender remédios paliativos a encontrar curas, porque seria mais lucrativo.
Esse seria o motivo, por exemplo, para ainda não haver uma cura para a Aids: não porque ainda não se saiba como alcançá-la, mas sim porque é mais lucrativo que ela não exista.
A forma mais simples de verificar a validade dessa teoria é responder à seguinte pergunta:
Você estaria disposto a pagar mais pra tomar remédios a vida inteira ou pra ser curado na hora?
Certamente todas as pessoas valorizam mais a cura do que o tratamento. Isto significa que o incentivo econômico do lucro, sempre demonizado pelos anticapitalistas, está perfeitamente alinhado com a busca da cura! Na verdade este é um princípio bastante essencial do mercado: se as pessoas querem mais uma coisa (como a cura da AIDS) eles sinalizam isso ao se disporem a pagar mais por essa coisa, e é justamente porque se busca aumentar os ganhos que as empresas se esforçarão para atender a esta demanda.
Se ainda está difícil visualizar, vamos a uma situação mais prática com números. Procurei ser razoável nos dados a seguir, mas nem tudo está disponível:
Digamos que custe R$1.000/mês pra tomar os remédios pelo resto da vida. Suponhamos que, de lucro, dê uns R$500 (uma taxa de lucro de 100%, bem acima do que as empresas realmente ganham, segundo pesquisei). Isso dá R$6.000/ano. Não encontrei dados precisos quanto à sobrevida da pessoa com HIV, por isso vou supor uma média de 30 anos. Isso dá 180 mil reais de lucro para a empresa no total, ao longo dos 30 anos.
Se cada unidade do comprimido ou da vacina de cura custar, digamos, 10 mil reais à empresa, basta ela vender este medicamento a mais de 190 mil reais e ela já ganha, instantaneamente, os 180 mil que lucraria ao longo de 30 anos. Você prefere pagar mil por mês durante 30 anos, num total de 360 mil, para ser tratado ou 190 mil, que até poderiam ser parcelados nos mesmos 30 anos, pra ser curado? Ora vale a pena pagar até mais de 360 mil pra ser curado na hora!
Veja que, mesmo o preço de custo da unidade de cura sendo 20x mais caro que o da unidade do remédio paliativo, a empresa lucra MAIS com a cura, e a pessoa ainda pagaria muito mais barato.
Além do mais, uma vez que a cura para uma doença é encontrada de forma definitiva e não há mais nada que precise ser melhorado, isso significa simplesmente que a empresa terá dinheiro livre para investir em outra pesquisa pra descobrir a cura/tratamento de outra doença, e lucrar com as duas e assim por diante.
Por fim, de acordo com esta lógica, camisinhas jamais teriam sido disponibilizadas no mercado, ou então viriam todas sabotadas, já que as empresas ganhariam ZILHÕÕÕES se todo mundo tivesse AIDS e engravidasse o máximo possível. Já imaginou quanto coquetel e fralda e remédio eles venderiam?
Entretanto, não é isso que observamos na realidade. Não só os métodos contraceptivos existem e continuam sendo aprimorados, como se tornam cada vez mais acessíveis.
Entretanto, não é isso que observamos na realidade. Não só os métodos contraceptivos existem e continuam sendo aprimorados, como se tornam cada vez mais acessíveis.
A alegação de que o capitalismo não incentiva a busca pela cura de alguma doença é completamente irracional, portanto. Muito pelo contrário, sistemas cujos incentivos desestimulariam a obtenção de uma cura seriam justamente aqueles mais anticapitalistas, em que as pessoas fossem impedidas de pagar mais por aquilo que mais desejam e em que a concorrência fosse limitada.
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Links interessantes:
O remédio é o lucro
O professor Wagner F. Gattaz argumenta sobre o mecanismo de produção de remédios e a existência das patentes sobre as invenções. Este é um assunto polêmico mesmo entre libertários e capitalistas, mas vale a leitura.
Polêmica revela custos reais dos remédios
Aqui estão alguns dos dados em que me baseei para criar o exemplo do post. Como você pode ver, na dúvida, arredondei-os de forma mais conveniente à tese de que não seria viável economicamente a cura — mesmo assim ela se mostrou mais lucrativa, com folga.
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Aqui estão alguns dos dados em que me baseei para criar o exemplo do post. Como você pode ver, na dúvida, arredondei-os de forma mais conveniente à tese de que não seria viável economicamente a cura — mesmo assim ela se mostrou mais lucrativa, com folga.