sábado, 19 de julho de 2014

O capitalismo não se interessa pela cura da AIDS?

Aproveitando o assunto, você sabia que mais de 30% do valor dos remédios no Brasil é imposto? E isto prejudica justamente os mais pobres.
Com a notícia de que havia cerca de 100 profissionais da área da saúde pioneiros em pesquisas sobre a AIDS no avião da Malaysia Airlines, entrou em pauta a teoria de que a queda do avião poderia ter como objetivo evitar que a cura da AIDS fosse alcançada. (Jean Wyllys cogitou isso, acredite se quiser),

Segundo algumas pessoas, o capitalismo faz com que as empresas prefiram vender remédios paliativos a encontrar curas, porque seria mais lucrativo.

Esse seria o motivo, por exemplo, para ainda não haver uma cura para a Aids: não porque ainda não se saiba como alcançá-la, mas sim porque é mais lucrativo que ela não exista.


A forma mais simples de verificar a validade dessa teoria é responder à seguinte pergunta:

Você estaria disposto a pagar mais pra tomar remédios a vida inteira ou pra ser curado na hora?

Certamente todas as pessoas valorizam mais a cura do que o tratamento. Isto significa que o incentivo econômico do lucro, sempre demonizado pelos anticapitalistas, está perfeitamente alinhado com a busca da cura! Na verdade este é um princípio bastante essencial do mercado: se as pessoas querem mais uma coisa (como a cura da AIDS) eles sinalizam isso ao se disporem a pagar mais por essa coisa, e é justamente porque se busca aumentar os ganhos que as empresas se esforçarão para atender a esta demanda.


Se ainda está difícil visualizar, vamos a uma situação mais prática com números. Procurei ser razoável nos dados a seguir, mas nem tudo está disponível:

Digamos que custe R$1.000/mês pra tomar os remédios pelo resto da vida. Suponhamos que, de lucro, dê uns R$500 (uma taxa de lucro de 100%, bem acima do que as empresas realmente ganham, segundo pesquisei). Isso dá R$6.000/ano. Não encontrei dados precisos quanto à sobrevida da pessoa com HIV, por isso vou supor uma média de 30 anos. Isso dá 180 mil reais de lucro para a empresa no total, ao longo dos 30 anos.

Se cada unidade do comprimido ou da vacina de cura custar, digamos, 10 mil reais à empresa, basta ela vender este medicamento a mais de 190 mil reais e ela já ganha, instantaneamente, os 180 mil que lucraria ao longo de 30 anos. Você prefere pagar mil por mês durante 30 anos, num total de 360 mil, para ser tratado ou 190 mil, que até poderiam ser parcelados nos mesmos 30 anos, pra ser curado? Ora vale a pena pagar até mais de 360 mil pra ser curado na hora!

Veja que, mesmo o preço de custo da unidade de cura sendo 20x mais caro que o da unidade do remédio paliativo, a empresa lucra MAIS com a cura, e a pessoa ainda pagaria muito mais barato.

Além do mais, uma vez que a cura para uma doença é encontrada de forma definitiva e não há mais nada que precise ser melhorado, isso significa simplesmente que a empresa terá dinheiro livre para investir em outra pesquisa pra descobrir a cura/tratamento de outra doença, e lucrar com as duas e assim por diante.

Por fim, de acordo com esta lógica, camisinhas jamais teriam sido disponibilizadas no mercado, ou então viriam todas sabotadas, já que as empresas ganhariam ZILHÕÕÕES se todo mundo tivesse AIDS e engravidasse o máximo possível. Já imaginou quanto coquetel e fralda e remédio eles venderiam?

Entretanto, não é isso que observamos na realidade. Não só os métodos contraceptivos existem e continuam sendo aprimorados, como se tornam cada vez mais acessíveis.


A alegação de que o capitalismo não incentiva a busca pela cura de alguma doença é completamente irracional, portanto. Muito pelo contrário, sistemas cujos incentivos desestimulariam a obtenção de uma cura seriam justamente aqueles mais anticapitalistas, em que as pessoas fossem impedidas de pagar mais por aquilo que mais desejam e em que a concorrência fosse limitada.

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Links interessantes:
O remédio é o lucro
O professor Wagner F. Gattaz argumenta sobre o mecanismo de produção de remédios e a existência das patentes sobre as invenções. Este é um assunto polêmico mesmo entre libertários e capitalistas, mas vale a leitura.

Polêmica revela custos reais dos remédios
Aqui estão alguns dos dados em que me baseei para criar o exemplo do post. Como você pode ver, na dúvida, arredondei-os de forma mais conveniente à tese de que não seria viável economicamente a cura — mesmo assim ela se mostrou mais lucrativa, com folga.

domingo, 25 de maio de 2014

Livre iniciativa desperdiçada: como tropeçar na solução mas não vê-la


Quando falamos em retirar do Estado a atribuição de prover os chamados "serviços essenciais", muitas pessoas perguntam, horrorizadas, quem promoveria tais serviços sem a atuação estatal. Ora, as próprias pessoas, como esta matéria de hoje do Último Segundo ilustra perfeitamente bem:


Do outro lado da cidade, o problema é falta de transporte público. Moradores do distrito de Marsilac, no extremo sul da capital, não têm uma linha municipal dentro do bairro, e têm que andar cerca de 15 km para chegar a um ponto atendido por uma linha que os leve até o terminal Varginha, de onde podem fazer integração para outras áreas da cidade.

Segundo a auxiliar de serviços gerais desempregada Renata da Silva Jesus Bispo, 28 anos, que mora no bairro da Ponte Seca, dentro do distrito de Marsilac, desde o ano passado, os moradores da região pedem uma linha circular no bairro e a falta do transporte inviabiliza a busca por empregos e cursos fora do bairro. “A gente não pode trabalhar fora, tem que trabalhar aqui na roça. Não podemos estudar porque gastamos três horas andando até o ponto de ônibus. Tem gente que mora mais para o fundo e demora até cinco horas”, diz.
Para chamar atenção para o problema, em parceria com o Movimento do Passe Livre, responsável pelas manifestações de junho do ano passado, os moradores alugaram um miniônibus para fazer o trajeto entre o bairro de Mambu e centro de Marsilac, onde passa a linha para o terminal Varginha. A linha popular circulou por apenas um dia, no dia 11 de abril, e foi viabilizada graças a realização de um bingo na comunidade. O aluguel do ônibus custou R$ 600. “A gente quis mostrar para a prefeitura que a estrada da Ponte Seca tem condições de receber transporte e não seria caro”, disse Renata. Segundo ela, a linha popular fez o trajeto seis vezes e transportou cerca de 500 pessoas.
Percebeu algo estranho?

O ponto realmente interessante é que os movimentos sociais conseguiram viabilizar o transporte no local, mas devido à lógica estúpida do "popular" a coisa só durou um dia porque o aluguel veio de um bingo.

Se eles cobrassem a passagem, não conseguiriam os R$600 de aluguel do ônibus TODO DIA? De acordo com a matéria, foram 500 passageiros em 6 viagens. Cobrando R$2 de cada um, daria R$1.000. Paga-se os R$600 e ainda sobram R$400 pra colocar numa caixinha para a compra de um ônibus próprio.

Mas essa história de cobrar passagem é coisa de capitalista malvadão, certo?

Isso é o que a mentalidade anticapitalista e estatista faz de pior com as pessoas: torna-as incapazes de solucionar seus próprios problemas; tropeçam na solução e não conseguem vê-la.

Querem lutar eternamente por "direitos" em vez de se beneficiar diariamente por serviços.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rolezinho


É correta a atitude do Shopping JK Iguatemi, que conseguiu uma liminar para impedir a entrada de adolescentes desacompanhados no local, a fim de evitar o rolezinho marcado para ocorrer ali?

Há realmente um conflito entre o direito de propriedade e o direito de ir e vir, como afirmam algumas notícias?

O shopping montou um esquema pra evitar rolezinhos e a turma de esquerda quer fazer de conta que é um procedimento padrão para "barrar pobres" e criar um "apartheid brasileiro". Aí fica difícil, não é debate, é histeria.

Vamos começar do começo: O que é um shopping?
Shopping é um lugar privado, que é aberto ao público por interesse comercial. Vai ser duro de ouvir, mas shopping é feito só pra consumir. Eles vivem disso. Tem gente que vai só pra olhar vitrine sim, tem gente que vai só pra passear com as crianças, e o shopping não proibe a "olhadinha sem compromisso" dessas pessoas porque ela sempre pode acabar em... consumo. É preciso parar com o mimimi de "espaço público". Shopping não é praça, nem rua. É comércio. A admninstração do shopping e seus lojistas bancam os custos com limpeza, segurança e de todo aquele conforto a partir das vendas que fazem para as pessoas que compram lá.

E o que é rolezinho?
Rolezinho são eventos em que centenas ou mesmo milhares de jovens são convocados via facebook a usar o espaço de shoppings não para os fins normais, mas só como ponto de encontro pra um evento "baile funk" clandestinamente convocado pra ocorrer ali.

Shoppings não gostam de rolezinhos porque ninguém compra nada em um, eles atrapalham os lojistas a vender, atrapalham quem quer comprar a fazê-lo, obrigam o shopping a arcar com gastos em limpeza e segurança e não dão retorno algum. Simples assim e todos sabem muito bem disso. Os lojistas, que a esquerda nunca teve problema em tachar de gananciosos, reclamariam de um evento que levasse 6 mil pessoas aos seus shoppings pra consumir só porque "é gente diferenciada"? Claro que não. Seriam os vendedores repreendidos pelos gerentes por receber dinheiro de "gente pobre e preta"? Claro que não: jornais estariam noticiando alegremente que no governo Dilma as vendas cresceram x% e todos estariam comemorando.

Aliás, esses pobres e pretos (nem são, mas tudo bem) coitadinhos nunca foram impedidos de entrar no shopping individualmente para comprarem os "originais" de que tanto fazem questão. Mas foram barrados quando suspeitos de integrar o rolê.

Então eles estão sendo barrados por 1) classe e cor ou 2) pelo rolezinho?

A resposta é obviamente a segunda opção, mas tem gente que precisa fazer de conta que eles estão sendo barrados "porque são pretos" (mesmo que os vídeos mostrem que os participantes dos rolezins estão na mesma média de mistura da população) e "porque são pobres" (mesmo que pobres entrem em shoppings normalmente, havendo inclusive shoppings que lutam por esse público) — e não por causa dos eventos clandestinos.

Afinal, esta gente de bem precisa mostrar como é engajada na defesa de minorias contra a "classe média", da qual eles fazem parte mas precisam aliviar a culpa que sentem por isso, nem que esse alívio seja na base de ver guerra de classe, racismo e preconceito onde não tem — aí preconceituosos são os outros, essa gente elitista que insiste em querer fazer compras sem ser obrigada a se ver no meio de um baile funk.
Racismo!! Não, peraí...

E o "direito de ir e vir"? - 'Shopping não tem direito de vetar o ir e vir', diz especialista
Não há conflito entre o direito de ir e vir e o direito de propriedade porque a liberdade de locomoção simplesmente nunca significou liberdade para permanecer na propriedade de outra pessoa contra sua vontade, muito menos a liberdade de organizar eventos lá sem a anuência do dono.

Todo o conflito e a necessidade de "harmonização de direitos" é balela. A situação só parece conflituosa e complexa porque os doutores "especialistas", motivados por uma mentalidade anticapitalista e ressentida, simplesmente não querem aceitar que a administração e os lojistas do shopping não são obrigados a abrigar eventos organizados por terceiros em suas dependências.

"Rolezeiro não é bandido! Estar no shopping ou cantar funk não é crime!"
Verdade. Embora algumas pessoas, como é natural em qualquer aglomeração humana, tenham aproveitado o tumulto para cometer crimes, muitas pessoas de fato vão ao rolezinho apenas para curtir, como numa festa normal.  Isto, entretanto, não importa.

O shopping pode restringir a entrada mesmo de quem não é bandido. Não é crime sentar numa mesa de bar, mas o dono deve poder não permitir que eu chame meus amigos pra sentar lá e aproveitar o telão, o espaço, o ar-condicionado, as mesas e os banheiros dele enquanto não deixamos um centavo sequer para ele.

Proprietários têm todo o direito de evitar pessoas e eventos enquanto o transtorno causado por estes for maior do que o retorno (veja notícia abaixo, no update).

Tem 6 mil jovens chegando ao shopping NA DATA E HORA MARCADA PARA O ROLEZIM, vestidos a caráter, cantando funk mas calma lá pessoal, não podemos ser preconceituosos, vai que é uma coincidência e eles só vieram todos juntos fazer compras antecipadas para o Natal em janeiro?

Ao contrário de exclusão social e elitismo, a reação contrária ao rolezinho é apenas uma mensagem muito clara aos "novatos": o mundo todo não tem que se tornar um grande baile funk só porque você gosta disso. Shopping é lugar de compra; baile funk, como qualquer outro tipo de festa, é em casa de show.



UPDATE
Novos rolezinhos não representam movimento, diz organizador
Embora Bruno Felice ainda pense que é dever dos shoppings hospedar seus eventos, quando a jornalista tenta arrancar uma acusação de racismo ele é claro: "Não é preconceito (de classe ou de cor) por parte do shopping ou da polícia. Eu acho que esses grupos [de esquerda] estão se aproveitando da situação. Não tem essa de classe média e classe baixa. Esse pessoal não representa o rolezinho".

Rolezinho derruba movimento no Shopping Leblon
Uma estimativa dos prejuízos causados pelos rolezinhos. Para os anticapitalistas é motivo de comemoração; mas eles "esquecem" que os trabalhadores pagam suas contas com esse dinheiro.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Salário mínimo

Mercado de trabalho: "Parabéns! Eu aumentei o salário mínimo!"
(Por Peter Schiff)

Quando algum encanamento da nossa casa entope, qual o procedimento padrão que normalmente seguimos? Fazemos um levantamento de preços com vários bombeiros hidráulicos e contratamos aquele que tem o melhor preço. Se todos os preços forem altos, a maioria de nós irá preferir pegar uma chave inglesa e uma soda cáustica, e fazer o serviço por conta própria. O mercado de trabalho funciona da mesma forma. Antes de contratar outro empregado, o empregador precisa estar certo de que esse novo empregado irá trazer um acréscimo de produtividade que exceda esse custo suplementar (o qual inclui não apenas o salário, mas todos os encargos sociais e trabalhistas, que já não são poucos, veja aqui)

Assim, se um trabalhador pouco qualificado for capaz de contribuir com apenas $6 por hora em termos de aumento de produtividade, tal indivíduo estará desempregado caso o salário mínimo seja fixado em $7,25 a hora.

Os trabalhadores pouco qualificados precisam lutar pelo dinheiro do empregador. E para isso eles têm de disputar tanto com os trabalhadores qualificados quanto com o capital (o maquinário). Por exemplo, se um trabalhador qualificado cobra $14 a hora para fazer um serviço que dois trabalhadores menos qualificados cobram $6,50 cada, seria economicamente sensato um empregador contratar a mão-de-obra menos qualificada. Entretanto, se o governo aumentar o salário mínimo para $7,25 a hora, esses trabalhadores menos qualificados serão "precificados para fora" do mercado de trabalho.

É exatamente por causa dessa dinâmica que os sindicatos são ferrenhos defensores das leis do salário mínimo. Embora nenhum de seus membros receba o salário mínimo, a lei ajuda a protegê-los da concorrência dos trabalhadores menos qualificados. (Sindicato nada mais é do que isso: um cartel protegido pelo estado e que expulsa do mercado de trabalho aqueles trabalhadores menos qualificados - ao mesmo tempo em que utiliza a retórica da proteção aos desfavorecidos.)

Os empregadores também têm a opção de empregar máquinas ao invés de pessoas. Por exemplo, um empregador pode contratar uma recepcionista ou investir em um sistema de atendimento automatizado. Ele fará o que for menos custoso. Assim, da próxima vez que você estiver gritando obscenidades ao telefone enquanto tenta dialogar com um computador, você já sabe em quem colocar a culpa por sua frustração.

Há vários outros exemplos de empregadores que substituem a mão-de-obra humana pelo maquinário simplesmente porque o salário mínimo deixou os trabalhadores menos qualificados pouco competitivos. Por exemplo, nos aeroportos, os carregadores de mala foram substituídos pelos carrinhos de mão (embora aqueles ainda existam informalmente). A principal razão por que os restaurantes fast-food utilizam pratos de papel e utensílios de plástico é para não ter de contratar pessoas para lavá-los.

Como resultado, muitos daqueles trabalhos que exigiam pouca qualificação e que costumavam ser o primeiro degrau da escada do mercado de trabalho foram exterminados do mercado. Você consegue se lembrar da última vez que um lanterninha o conduziu até seu assento em um cinema escuro? Qual foi a última vez que alguém - além do indivíduo que fica no caixa - não apenas empacotou suas compras no supermercado, mas também as levou até seu carro? Por falar nisso, não demorará muito para que os próprios caixas sejam "precificados para fora" do mercado e substituídos por scanners automáticos, fazendo com que você tenha de empacotar suas comprar sem qualquer ajuda. Você pode até ser capaz disso, mas e as pessoas de mais idade?

O desaparecimento desses empregos traz consequências econômicas e sociais mais amplas. Os primeiros empregos que conseguimos são um meio de aperfeiçoarmos nossas habilidades, de modo que trabalhadores menos habilidosos possam adquirir experiência e, com isso, oferecer maior produtividade para seus empregadores atuais ou futuros. À medida que suas habilidades aumentam, o mesmo ocorre com sua capacidade de obter salários maiores. Entretanto, remova o degrau mais baixo da escada do mercado de trabalho e muitos nunca mais terão a chance de subir nela.

Portanto, quando você mesmo tiver de abastecer seu carro em um posto sob chuva, não pense apenas naquele adolescente que poderia estar fazendo isso pra você; pense também no mecânico que ele poderia ter se tornado, caso as leis do salário mínimo não lhe tivessem negado um emprego. Vários mecânicos de automóveis aprenderam segredos de seu ofício quando trabalhavam como frentistas. Entre uma abastecida, uma lavagem e uma calibragem de pneus, eles passavam boa parte de seu tempo auxiliando os mecânicos e aprendendo com eles. Isso vai acabar.

Como o salário mínimo impede que muitos jovens (inclusive um número desproporcional de minorias) consigam empregos básicos, eles nunca poderão desenvolver as habilidades necessárias para aspirar a empregos que paguem melhores salários. Como consequência, vários recorrem à criminalidade, enquanto outros recorrem ao assistencialismo governamental.

Defensores do salário mínimo argumentam que é impossível sustentar uma família quando se vive apenas com um salário mínimo. Sim, é verdade. Mas isso é totalmente irrelevante, pois os empregos que pagam salário mínimo não foram feitos para sustentar uma família.

O certo seria que as pessoas optassem por não iniciar uma família até que estivessem ganhando o suficiente para sustentá-las. Empregos de baixos salários servem para capacitar os trabalhadores a, com o tempo, adquirirem as habilidades necessárias que os permitirão ganhar salários altos o suficiente para sustentar uma família. Será que alguém realmente acha que um adolescente que trabalha como entregador de jornal deveria ganhar um salário capaz de sustentar uma família?

A única maneira de se aumentar salários é aumentando a produtividade. Se os salários pudessem ser aumentados simplesmente por decreto governamental, poderíamos determinar o salário mínimo em $10.000 por mês e todos os problemas estariam resolvidos. Já deve estar claro para todos que, nesse nível, a maioria da população perderia seus empregos, e a mão-de-obra remanescente seria tão cara que os preços dos bens e serviços iriam disparar. Este é exatamente o fardo que as leis de salário mínimo impõem aos trabalhadores pobres e pouco qualificados - e, em última instância, a todos os consumidores.

O salário mínimo, como toda regulamentação, é uma proibição. Especificamente, é proibido contratar uma pessoa para realizar qualquer trabalho por menos que aquele valor. Isto nada mais é do que uma proibição clara e direta do trabalho.

Dado que nossos líderes não conseguem compreender sequer este simples conceito econômico, por que ainda há pessoas que acreditam que eles irão solucionar os problemas econômicos bem mais complicados que nos assombram atualmente?

domingo, 15 de dezembro de 2013

O estado quer que você o conheça. Isso é bom?


Como a educação é frequentemente apontada como a panaceia de todos os males por si mesma, sem maiores considerações, dificilmente alguém será contra qualquer proposta que adicione matérias à grade curricular, ou seja, "mais educação".

Pois bem, essa semana o Deputado Federal Romário apresentou projeto de Lei que inclui o estudo da Constituição Federal nos ensinos fundamental e médio. (Links: inteiro teor do projeto de lei | tramitação do projeto).

Façamos então estas maiores considerações:

O quê, exatamente, um aluno vai estudar ao ler a Constituição Federal?
A CF possui, basicamente, duas partes: uma que define os direitos dos cidadãos e outra que estabelece a estrutura política e jurídica do estado que vai fornecer isso.

A justificativa do Deputado é que é importante que nossos estudantes conheçam seus direitos para poder reivindicá-los. É exatamente o que comentei no post Educação pública sim; estatal não.: em vez de ensinar o valor do esforço próprio e da reivindicação de liberdade para poder exercê-lo, nossa educação se esforça em promover a ideia de que "cidadania é exigir direitos ao estado".

Quando se reivindica os mundos e fundos que a CF promete em seu art. 6º, especialmente, não se está reivindicando direitos e sim bens. É isso que educação, saúde, moradia, lazer, etc. são: bens, que precisam ser produzidos por uns para serem dados a outros. Nossa CF, como é da tradição socialdemocrata, consiste em fomentar a ilusão do estado como aquele arranjo em que todos vão viver às custas dos outros.

O estudo da Constituição, assim, é fundamental para nossas crianças aprenderem, agora do ponto de vista da lógica jurídica e legalista, aquilo que já foi ensinado à geração atual só como valores: que ser cidadão é se tornar um pedinte que sai por aí reivindicando que o estado lhe dê coisas.

A próxima geração, portanto, contará com pessoas que serão treinadas a pedir em juridiquês também. No que depender da nossa educação, nada mudará no teor das reivindicações — as pessoas continuarão protestando contra o sintoma (os 20 centavos) em vez de contra a causa (o sistema de concessão estatal no transporte público), por exemplo — mas agora saberão apontar também um embasamento legal para sua burrice.

Pode-se argumentar que o estudo da CF é importante porque o cidadão comum nem sequer está consciente de seus direitos.

É verdade, mas isto nos leva a outro ponto interessante:

O estado promete tudo a todos, não precisa atender a parcela de cidadãos comuns porque estes nem sabem dos direitos que têm, e mesmo assim o estado não consegue cumprir o que promete. O dia em que todos souberem dos seus direitos, a coisa tende a desandar de vez. Por exemplo, o dinheiro necessário para atender a demanda de apenas 4 pacientes do Ceará que pediram o cumprimento real do que foi prometido na CF na saúde ("a saúde é direito de todos e dever do Estado") corresponde a 67% do valor repassado pelo governo estadual para a compra de medicamentos básicos do município de Fortaleza inteiro. (Você pode ler mais sobre isso aqui: O Paciente de 800 mil reais.)

A solução, obviamente, não é manter as pessoas ignorantes quanto aos direitos prometidos, é PARAR de prometer essas mentiras impossíveis de serem cumpridas.

Este tipo de conclusão, no entanto, precisa de um enfoque CRÍTICO no estudo da Constituição para ser alcançada — enfoque absolutamente necessário, mas que não está nem de longe nos objetivos trazidos pela proposta do Deputado.

Ora, até Paulo Freire já dizia que é muita ingenuidade esperar que a classe dominante vá fornecer as ferramentas para a classe dominada reagir. O estado não vai fomentar a crítica a si mesmo ao ensinar a Constituição, e sim proporcionar que as crianças saibam apontar, agora com base na lei, o quanto e como devemos recorrer a ele para resolver nossas vidas.



Posts relevantes sobre o assunto:
- Educação pública sim; estatal não.
Uma proposta para melhorar a educação no país

- Direitos Sociais: aqueles que você paga mas não leva
- "Saúde não é direito humano". E daí?
Estes 2 posts abordam a natureza dos direitos sociais e a consequente impossibilidade de cumpri-los.


- Concessões e regulamentação: deveríamos mesmo comemorar a ação da ANATEL?
Uma explicação sobre a causa dos problemas na prestação de vários dos "direitos" prometidos.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Mais sobre telecomunicações: o caso da Guatemala

No post sobre Concessões e regulamentação falamos sobre os problemas do setor de telecomunicações brasileiro, e como eles são causados pelo sistema de concessão adotado pelo governo, que permite que um pequeno grupo de empresas privadas conquiste o "direito" de explorar os serviços de telefonia numa área por determinado tempo, sendo protegidas pelo estado da entrada de novas concorrentes.

Mas como deveria ser feito este processo? Felizmente existe um caso real na Guatemala, em que as ideias capitalistas foram aplicadas. A história inicial é simples e praticamente idêntica à do Brasil, em termos proporcionais: em 1995, havia 11 milhões de habitantes no país e apenas 289 mil linhas telefônicas. Um novo presidente foi eleito e nomeou para a direção da estatal telefônica um economista de formação libertária, Alfredo Guzmán, graduado na Universidad Francisco Marroquin, atual centro austríaco da América Latina (graduandos de lá fazem matérias obrigatórias que utilizam Mises e Hayek como bibliografia).

Ao nomear Guzmán, o presidente recém-eleito da Guatemala lhe fez um único pedido: "Quero muitos telefones por todo o país. E rápido!". Vejam com Guzmán resolveu a situação:



Resumindo os pontos importantes: o mercado foi aberto para absolutamente toda e qualquer empresa, nacional ou estrangeira. Qualquer empresa, de qualquer país, que quisesse ir ofertar seus serviços na Guatemala tinha a total liberdade de fazê-lo. Sem qualquer restrição governamental. Não haveria privilégios, nem subsídios e nem restrições à livre concorrência.

Esta é a diferença entre um livre mercado e um sistema de concessão como o que temos no Brasil atualmente.

Quanto aos resultados, a Guatemala tem atualmente uma população de 13 milhões de pessoas e mais de 18 milhões de telefones. Hoje em dia, até mesmo os mais pobres guatemaltecos tem telefones celular e aproveitam um serviço de alta qualidade por um preço relativamente baixo.

sábado, 30 de novembro de 2013

Capitalismo


Por Pedro Carleial (com edições)

A definição mais comum de Capitalismo é alguma variante de “um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção”. Esta definição é equivocada por vários motivos.

- Em primeiro lugar, o direito à propriedade é um conceito político e não econômico. Trata-se de reconhecer que tudo o que tem valor para o homem é produto do esforço produtivo de alguém, e garantir ao criador de cada valor o direito de fazer o que quiser com aquilo que produziu.

- Em segundo lugar, a definição faz uma distinção irrelevante ao especificar a propriedade privada de meios de produção. Rigorosamente todo produto material do esforço humano é um meio de produção em potencial.

Mesmo um bem de consumo é um meio de produção – ele permanece totalmente inalterado da saída da fábrica, passando pelo operador logístico, pelo atacadista e pelo varejista. Mas cada um destes o usa para produzir valor: trazendo o produto para perto de quem o deseja.

E o bem de consumo de um é o meio de produção de outro. Uma pessoa pode usar o leite comprado no mercado para colocar em seu cafezinho. Outra usa o mesmo leite para fazer um bolo para vender.

Não existe distinção real entre “bem de consumo” e “meio de produção”. A distinção está apenas em como cada um usa um dado produto: para saciar suas próprias vontades ou para produzir algo que saciará as vontades de outros.

- Finalmente, apenas a garantia formal da propriedade privada é insuficiente. Nos regimes fascistas e no moderno “estado regulador” a propriedade é nominalmente privada – mas o governo determina o que se pode ou não fazer com ela. Na prática, esta violação da liberdade anula o direito à propriedade. O que significa ser “dono” de uma propriedade se você precisa da permissão de outro para usá-la?

Como surge o capitalismo?
Nos posts passados, falamos sobre os direitos a vida, liberdade e propriedade. O que aconteceria se tivéssemos uma sociedade em que a atuação do estado se limitasse a proteger estes 3 direitos de TODOS os cidadãos? Parafraseando John Lennon em sua "Imagine":

Imagine um mundo em que cada pessoa é dona daquilo que produz - direito à propriedade.

Imagine um mundo em que cada pessoa é livre para dispor daquilo que produz - direito à liberdade.

Imagine um mundo em que cada pessoa tem sua vida protegida, de forma a poder exercer os dois direitos acima - direito à vida.

A vida sob um governo legítimo, o que significa um governo que defenda estes direitos individuais, é uma vida em que se está livre da ameaça dos outros, mas se está inteiramente responsável pela própria vida. Se alguém quer ter propriedade, terá de produzi-la. Se não é capaz de produzir aquilo que quer, terá de produzir algo que os outros queiram – para poder trocar por aquilo que deseja. Porque existem o direito à liberdade e o direito à vida, ele não pode ameaçar nem coagir ninguém a ajudá-lo nem a saciar suas vontades, precisa convencer as pessoas a fazer o que quer que façam.

Um sistema onde as pessoas são donas daquilo que produzem e o trocam por comum acordo, não é sistema econômico nenhum. O Capitalismo é simplesmente o que acontece naturalmente quando as pessoas estão livres de ameaças contra seus direitos.

O “sistema" capitalista é, portanto, um mito. Não existe ninguém “organizando” nem ditando as coisas no Capitalismo. Não existe ninguém determinando quem deve fazer o quê. Não existe “sistema” exceto a proteção dos direitos individuais – e isto é um sistema político, e não um sistema econômico.

Quando não se pode obrigar alguém a lhe dar o que você quer, é preciso convencê-lo. O meio de fazer isso é trocando o que você quer e ele tem pelo que ele quer e você tem. O dinheiro é uma ferramenta que facilita estas trocas.

Quando se tem propriedade acumulada, é natural que se procure obter dela o maior benefício possível. Um meio de fazer isto é usando-a para a produção. O “acúmulo de capital” não é parte de um “sistema”, é apenas o que as pessoas fazem naturalmente para melhorar sua condição de vida no futuro.

Não existem “classes” no Capitalismo porque não há sistema no Capitalismo. Existem ricos e pobres da mesma forma que existem pessoas bonitas e feias, inteligentes e burras, empenhadas e folgadas. Cada um produz de acordo com sua capacidade – e para seu próprio proveito. A “desigualdade” é parte da natureza humana, e não algo "causado pelo sistema capitalista", como alegam alguns. (É claro que, assim como é da natureza humana haver feios e bonitos, burros e inteligentes e nem por isso vamos defender que as pessoas não possam buscar educação ou tratamentos estéticos, pode-se também buscar amenizar a desigualdade. A questão fundamental é que qualquer busca por isso deve ser feita sem violar os direitos de outros).

Como ninguém planeja nem impõe a estrutura econômica no Capitalismo, chamo-o de “organização econômica”, e não “sistema econômico”. O que caracteriza esta organização econômica é ser o resultado natural da livre ação de todos os indivíduos, quando lhe são assegurados os direitos individuais.

Portanto,

Capitalismo é a organização econômica que resulta do sistema político de direitos individuais à vida, propriedade e liberdade.

Neste blog, tomo a liberdade de chamar o próprio sistema político de Capitalismo – por ser inseparável dos efeitos econômicos conhecidos por este nome.

Uma vez compreendida essa ideia, veremos que praticamente toda a crítica anticapitalista na verdade vive de botar nas costas do capitalismo coisas que não são, absolutamente, capitalismo. Por exemplo, quando as pessoas reclamam que "No capitalismo os governos dão dinheiro da população para salvar os banqueiros", isso é realmente culpa do capitalismo? Vejamos: o capitalismo se baseia na propriedade privada. Como pode um sistema baseado em roubar dinheiro (propriedade) de uns para dar a outros ser capitalista? Não pode.

Os próximos posts serão dedicados a comentar este tipo de crítica equivocada, na série que vou batizar de "Bota na conta do Capitalismo", mas se você quiser expor questionamentos deste tipo (e certamente haverá muitos, pois passamos nossa vida ouvindo que o Capitalismo é raiz dos males do mundo), fique à vontade para usar o espaço dos Comentários, logo abaixo.


Antes, um adendo:

Como saber se uma economia é capitalista?
Como visto, o Capitalismo não é um sistema. A existência de bancos, empresários, indústrias, dinheiro, trabalho assalariado, juros, nada disto precisa ser estabelecido pelo governo. Todas estas coisas surgem no Capitalismo, mas não são elas que fazem de uma economia capitalista. Não se pode caracterizar o Capitalismo por seus sintomas, pois é possível estabelecer estas e outras instituições típicas do Capitalismo pela força governamental.

O Capitalismo só pode ser identificado por suas causas, ou seja, pelo sistema político que o origina. Em um dado contexto, se os agentes econômicos têm assegurados seus direitos individuais então suas relações produtivas são capitalistas. Na medida que seus direitos à vida, propriedade e liberdade são ameaçados, suas relações deixam de ser capitalistas.

No mundo de hoje não existe país que seja completamente Capitalista. Na história a nação que mais se aproximou deste sistema político foram os Estados Unidos da América, no século 19. O que se encontra hoje no mundo ocidental são grandes economias mistas, em que os direitos de propriedade e liberdade individual são violados pelos governos em maior ou menor grau.

No Brasil o governo interfere em praticamente todos os aspectos da vida do cidadão, violando rotineiramente seus direitos à propriedade e à liberdade. Além de roubar o cidadão diretamente através dos impostos, impõe um sem número de regras estabelecendo o que o indivíduo pode ou não pode fazer com aquilo que lhe pertence. O governo é dono da empresa que domina 90% da atividade petroquímica, regulamenta pesadamente a importação e exportação dos produtos, taxa abusivamente a compra e venda dos produtos e ainda se declara dono de toda a reserva mineral do país - se você achasse petróleo na “sua” terra, não poderia explorar!

Em contraste, não existe empresa governamental de maquiagem. Embora sem dúvida existam inúmeras regulamentações sobre produtos de estética, e eles sejam sujeitos a tributos e restrições de importação e exportação, não há regulação específica desta indústria. Existem grandes e pequenas empresas privadas, com os mais variados modelos de negócio.

Comparada com a indústria petroquímica, a indústria de cosméticos é muito mais capitalista: quem desenvolve, produz, comercializa, compra e usa cosméticos o faz com muito mais liberdade.

A privatização, ainda que em regime de concessão, das grandes estatais de telecomunicações no Brasil dá um contraste claro entre situações de menor ou maior Capitalismo. Enquanto era uma indústria estatal, a telefonia no Brasil era cara, ruim e tecnologicamente atrasada. Quando se passou a respeitar parcialmente a propriedade privada nesta indústria, ocorreu uma revolução na qualidade, acessibilidade e preço dos serviços.

Mas a telefonia no Brasil ainda não é capitalista. A permissão para atuar no mercado é por concessão governamental. Os serviços e preços são regulados pelo governo. O verdadeiro Capitalismo faria o que vemos hoje parecer tão atrasado quando nos parece hoje o velho sistema onde uma linha de telefone custava milhares de reais e demorava meses para ser instalada.

Onde existe Capitalismo no mundo de hoje? Não há um país que seja completamente capitalista, que defenda consistentemente os princípios do sistema político dos direitos individuais. Há, no entanto, países que se aproximam muito deste ideal, e outros que não o veem nem ao longe. Nos países mais livres, há setores da economia que são praticamente Capitalistas – em que por algum motivo o governo não interfere.

Como Capitalismo se identifica pela defesa de direitos, a liberdade é o melhor indicador de quanto um país é capitalista. A Heritage Foundation publica anualmente um índice de liberdade econômica, um bom indicador de quanto cada país se aproxima do Capitalismo.

O Brasil aparece em 100º lugar no ranking de 2013. Aqui há bancos, empresários, assalariados e tudo o mais. Em teoria existe a tal “propriedade privada dos meios de produção”. Mas aqui nunca houve Capitalismo.

domingo, 3 de novembro de 2013

200 países, 200 anos e 1 efeito curioso



Pobreza já teve um significado objetivo: pobre era quem não tinha condição de atender suas necessidades mais básicas. Os pobres de hoje em dia vivem melhor que os de antigamente e até melhor do que os ricos de séculos atrás.

Uma premissa básica dos anticapitalistas é ignorar que o status inicial de todo mundo, a igualdade de oportunidades inicial, já existe e é a pobreza. O vídeo ilustra esse ponto perfeitamente bem: no começo todos os países estavam no mesmo canto, igualmente pobres. O que vemos ao longo de 200 anos de estatísticas são países abandonando a pobreza inicial. É triste que alguns países ainda não os tenham alcançado no canto de cima do gráfico, mas a solução certamente não é recriminar ou tentar puxar de volta aqueles que se distanciaram de tal pobreza inicial.

No entanto, o fato de o capitalismo permitir que tantas pessoas estejam acima da pobreza objetiva parece, para certos críticos, apenas realçar o fato de que algumas pessoas ainda estão nessa condição. Gera-se assim um curioso efeito: quanto MENOS pobreza há, MAIS histeria se cria em volta dela.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Educação pública sim; estatal não.



Se há uma coisa que todo mundo concorda que deveria ser prioridade é a educação.
E se há uma coisa que quase ninguém faz é levar a discussão à etapa seguinte: EDUCAÇÃO EM QUÊ? E, o que vou discutir principalmente neste post: COMO?

A unanimidade talvez esteja justamente nisso. Todo mundo concorda porque é um conceito vago, cada um defendendo "educação" porque imagina como seria lindo se todo mundo recebesse a mesma educação que a dele.

E como é o estado e seus políticos que sempre aparecem prometendo coisas universais, gratuitas e de qualidade, é natural que as pessoas depositem na educação estatal seu sonho de "educação a todos".

Creio que eu não precise escrever muito para demonstrar como o ensino público brasileiro é ruim. Matérias como "Aluno do ensino médio na escola pública sabe menos que o do fundamental na particular" ilustram bem como a coisa anda.

É desse padrão de educação que queremos mais?

Certamente não. Mas como a discussão política no Brasil se resume à matrix de opções de esquerda, a revolta "contra tudo isso que está aí" se converte numa indignação que acaba pedindo ...mais estado — o que significa simplesmente pedir mais do veneno que está causando os problemas, na eterna esperança de que ele cumpra o que nos prometeu.

(Mentalidade que, aliás, nos é ensinada pela própria escola: quem aí não aprendeu que ser cidadão é cobrar do estado que ele lhe dê seus direitos? Em vez de ensinar o valor do esforço próprio, nossa educação forma pedintes e a crença no "almoço grátis". Não é de se espantar que as pessoas, vítimas de um péssimo transporte público à base de concessões estatais, tenham saído à rua contra os 20 centavos, mero sintoma, em vez de contra o sistema de concessões do governo, a causa. Nem é de se espantar que depois tenha chegado a fatura: 30% de aumento no IPTU para pagar a conta do ônibus.)

Pois bem, que outra alternativa temos? Como mudar isso?

O problema dos incentivos
Para muitos, a solução de mudança é que as pessoas mudem sua forma de agir. Acreditam que basta "a sociedade" fiscalizar, protestar e punir, até que os políticos e burocratas parem de roubar. Esta crença, de que o estado tem tudo pra dar certo e as pessoas é que estão erradas, é ingênua, e ignora a questão dos incentivos.

Enquanto no ensino privado uma escola que seja boa tem aumento de receita, no ensino governamental é o contrário – quanto pior a escola, mais fácil exigir mais dinheiro para consertá-la. Esta estrutura invertida de incentivos no longo prazo leva sempre à piora do serviço prestado. Recentemente houve esforços na tentativa de inverter isso. Agora escolas melhores recebem mais bônus, isto é, dinheiro público. O resultado prático dessa tentativa é a corrida das estatísticas: pergunte a qualquer professor da rede pública e ele lhe dirá que há pressão para manter as estatísticas de reprovação baixas — o que significa simplesmente que alunos ruins estão tendo que ser passados adiante mesmo não merecendo, tudo para não comprometer as estatísticas. Não é supresa alguma sermos um país de analfabetos funcionais.

Muito mais factível do que "a sociedade" passar o dia todo fiscalizando se cada centavo está sendo bem gasto, é adotar um sistema que tenha os incentivos corretos para a boa aplicação natural do dinheiro. Isso, por mais estranho que possa soar à nossa cultura anticapitalista, ocorre no sistema privado.


A questão da ajuda aos pobres
A primeira preocupação certamente virá na pergunta:

"Mas se todos tiverem que pagar pela escola, como os pobres vão ter educação??" 
Em primeiro lugar, é importante destacar que os pobres JÁ PAGAM pela escola. Os impostos usados para financiar estas benesses estatais estão embutidos por toda a economia, e pesam sobretudo no bolso dos mais pobres. Eles já pagam, e não recebem.

A objeção seguinte geralmente  vem na forma de algum slogan do tipo:

"Educação é direito, não é mercadoria!"
Isto é defendido apaixonadamente por políticos, educadores e intelectuais – mas estão errados.

Direitos verdadeiros são condições inerentes à existência do indivíduo racional. O indivíduo permanece vivo a menos que o matem, permanece livre a menos que o ameacem, permanece dono do que é seu a menos que o roubem. Direitos verdadeiros são coisas que todos têm por natureza, mas podem lhes ser tiradas. (isso já foi discutido em mais detalhes na série sobre direitos, veja no Índice)

A educação não é inerente à existência do indivíduo. Ao contrário da vida, propriedade e liberdade, o indivíduo não possui educação – a não ser que alguém o eduque. A educação não é, portanto, um direito. Respeitar os verdadeiros direitos requer apenas que não façamos nada contra o próximo. O “direito” à educação nos obrigaria a trabalhar para ele.

Produtos são aquelas coisas que são criadas pelo trabalho humano. Como diz a própria palavra, produtos são coisas produzidas pela ação humana. Educar exige conhecimento e didática. O educador precisa ele mesmo saber, o que resulta de seu próprio esforço, e precisa transmitir este conhecimento ao aluno – outra ação humana. O próprio aluno, por sua vez, também precisa se esforçar para aprender.

A educação de um indivíduo resulta sempre de seu próprio esforço. Quando não é um completo autodidata, resulta também do esforço de outros – sejam professores, palestrantes, autores, editores ou fabricantes de material didático. A educação é produzida pela ação de todas estas pessoas. A educação é um produto.

Solução: Resolvendo os incentivos
Uma educação privada, portanto paga, e opcional garante que só estarão na escola indivíduos que querem estudar – ou crianças cujos pais vêem real valor na educação de seus filhos. É disto que nasce o respeito ao professor.

Uma educação totalmente privada significa que as escolas precisam competir entre si para contratar bons professores. É disto que nasce a recompensa financeira adequada pelo serviço que prestam.

Uma educação totalmente privada significa que para ganhar mais dinheiro cada escola, cada diretor, cada professor, precisa oferecer um produto melhor — em vez de se focarem em politicagem e estatísticas para inglês ver. Assim como em toda atividade econômica, a liberdade de competição levará à constante melhoria da qualidade e redução do preço do produto. É disto que nasce o ensino barato e de qualidade.

Uma educação totalmente privada significa menos oportunidade para corrupção. O governo brasileiro, em suas diversas esferas, poderia reduzir suas despesas, cortando sua arrecadação, em 15 a 20%. Isto significa que até 200 bilhões de reais por ano deixariam de passar pelas mãos do governo. Aquilo que não passa pelo governo não pode ser desviado por políticos desonestos.

Solução: Pode existir educação pública sem ser estatal - Política de Vales
Por que não tornar privado o ensino governamental?
A maneira de fazer isto, diferente dos leilões e concessões que se costuma usar nas “privatizações” brasileiras, seria transferir a propriedade das escolas diretamente para seus funcionários.

Administradores e professores da rede governamental de ensino receberiam uma participação na propriedade da escola em que trabalham e as escolas passariam a ser de sua propriedade. Os termos específicos que regeriam estas sociedades precisam ser definidos, mas cada escola seria como qualquer empresa com vários sócios.

Toda a verba do orçamento do governo que era usada para custeio das escolas passaria imediatamente a ser distribuída à população em forma de “vales” – os pais de cada criança receberiam mensalmente um “vale” que poderiam usar no pagamento de qualquer escola. As escolas apresentariam os “vales” que receberam de seus alunos ao governo, que as pagaria em dinheiro. O valor do “vale” seria ajustado anualmente por um índice de inflação.

Um município que gasta R$2.000.000,00 por mês no custeio das escolas municipais e onde residem 10.000 crianças, por exemplo, passaria a distribuir mensalmente um vale de R$200,00 a cada criança. Ao matricular seu filho em uma escola que tivesse uma mensalidade de R$200,00 os pais poderiam simplesmente entregar o “vale” todo mês. Se a mensalidade fosse mais alta, pagariam a diferença.

Como a verba distribuída em “vales” é a mesma verba que as escolas governamentais recebiam, inicialmente haveria certa estabilidade. As escolas tornadas privadas poderiam inicialmente cobrar uma mensalidade exatamente igual ao valor do “vale”, mantendo os mesmos alunos e tendo uma receita próxima à que tinham antes.

Os “vales”, no entanto, seriam distribuídos a todas as crianças igualmente – como rege o princípio da igualdade perante a lei. Isto significa que crianças que atualmente cursam escolas privadas também receberiam “vales”.

Com o tempo as escolas recém tornadas privadas ajustariam seus preços à qualidade do serviço que prestam. Boas escolas poderiam cobrar mais que o valor do “vale”, escolas ruins teriam de oferecer melhores serviços para evitar que os pais transferissem seus filhos para outro lugar – levando consigo seu dinheiro.

É provável que muitos professores e administradores resolvessem vender suas partes nas escolas. No caso de escolas com imóveis em regiões nobres, é provável que o imóvel viesse a ser vendido. No entanto professores e administradores de escola têm um interesse direto na continuidade de seus próprios empregos. Mesmo que vendessem o prédio da escola, provavelmente reabririam em outro lugar. Se não reabrissem, todos os “vales” de seus ex-alunos acabariam em alguma outra escola.

Uma restrição à venda de imóveis ou outros ativos por um período de tempo poderia evitar a instabilidade da oferta de ensino durante a transição.

Proposta adicional: Transição
Este conjunto de medidas imediatas torna todo o sistema de ensino privado imediatamente, e a estrutura dos “vales” permite até que haja uma transição da dependência do governo para a responsabilidade individual de forma gradual, sem que uma geração de crianças precise pagar o preço pela irresponsabilidade de inúmeros governos e de seus próprios pais.

O período de transição para um eventual fim dos vales, poderia começar dez meses após a última escola governamental se tornar privada. Qualquer criança nascida a partir desta data não teria mais direito a “vale” educacional. Isto teria de ser amplamente e contundentemente anunciado. O período de dez meses é proposital – os pais saberiam antes de fazer o filho que teriam de pagar sua educação do próprio bolso.

Este modo de transição é melhor que uma redução gradual do valor do “vale”, pois deixa claro que a “ajuda” do governo vai acabar, e que os pais terão de assumir a responsabilidade pelos filhos que decidirem ter. Também evita que os vales se tornem permanentes – algo que será tentador para futuros governos socialistas.

Os obstáculos à proposta
Há milhões de crianças brasileiras freqüentando as escolas governamentais, a maioria de famílias pobres. Não existe ensino básico de baixo custo no país. Para eliminar o ensino governamental é preciso lidar com esta dependência estabelecida.

A ilusão de que o ensino governamental é gratuito é prevalente. A eliminação do ensino governamental será tratada politicamente como a eliminação de um benefício (sem reconhecer que elimina simultaneamente um malefício maior). Quem defender o ensino privado será atacado politicamente. Certamente será acusado de não valorizar a educação ou não se importar com o futuro das crianças brasileiras.

Estas acusações são falsas – o ensino totalmente privado certamente produziria ensino melhor, mais respeitado, mais barato e mais disponível no longo prazo. Mas é preciso lidar com a inevitável oposição política durante a transição.

A total privatização do ensino sofrerá oposição de muitas pessoas na máquina governamental, pois:

Elimina todo um ministério federal e secretarias em todos os governos estaduais e municipais; Faz com que professores e diretores de escolas precisem produzir bons resultados para manterem seus empregos e evoluírem na carreira; Elimina as oportunidades de corrupção em construção de escolas, compra de material escolar, compra de merenda escolar entre outras; Elimina a possibilidade do uso de gastos com educação como ferramenta de propaganda política; Elimina a possibilidade de uso da rede de ensino para doutrinação política.

Estes fatores indicam que se deve esperar a oposição de:

Burocratas de ministérios e secretarias de educação; Professores e diretores de escola que não querem ser avaliados por seus resultados; Sindicatos de professores; Empresários que vivem de fornecer para o governo (honesta ou desonestamente); Políticos e lobistas que se beneficiam de “facilitar” estes negócios; Políticos que usam a educação como ferramenta de propaganda e Grupos que querem usar as escolas para propagar sua ideologia em escala nacional.

É preciso evitar ou superar a oposição destas pessoas.

A cultura do estatismo torna a extinção do ensino governamental impopular. Os “beneficiários” do sistema se acostumam e passam a se achar no direito de receber serviços a troco de (aparentemente) nada. Em todas as classes econômicas predomina a idéia e que é responsabilidade do governo resolver os problemas dos cidadãos.

É preciso “vender” a solução liberal, mostrando em termos compreensíveis pela população em geral que o ensino totalmente privado funciona.

O método adicional proposto oferece ainda uma arma contra a cultura do estatismo. Com a transição feita da maneira proposta, e aliada à sua ampla divulgação, será possível dizer a quem no futuro vier reclamar que não pode pagar uma escola que sabia antes de fazer o filho que teria de arcar com esta responsabilidade, de forma que a pressão social passe a ser pela responsabilidade individual ao gerar crianças, em vez de pedir ao governo que assalte a uns para pagar a conta da irresponsabilidade de outros.

*O post acima aplicou trechos escritos por Pedro Carleial