terça-feira, 12 de março de 2013

Invertendo o jogo: os outros também precisam solucionar problemas


É extremamente comum, ao fazermos a defesa de uma sociedade livre de intervenções e coerções estatais, os defensores do sistema vigente apelarem para efusões de sentimentalismo, como se afetações de "preocupação para com os desvalidos" fossem argumentos imbatíveis.

Em vez de atacarem os argumentos éticos, morais e econômicos em prol de uma sociedade livre, tudo o que eles fazem é inventar algumas hipóteses "desumanas" que, segundo eles, seriam frequentes em um ambiente de liberdade. Eis os exemplos mais comuns desta afetação de coitadismo a que recorrem:
"Sem saúde pública, o que ocorrerá a um sujeito pobre que ficar doente, não tiver plano de saúde, e não conseguir convencer amigos, familiares ou instituições de caridade a pagarem por seu tratamento?"

"Sem educação pública, como os pobres irão se educar?"

"E se um idoso for fraudado por uma empresa de previdência privada e os criminosos desta empresa desaparecerem com todo o seu dinheiro?"

"E se uma criança pobre estiver morrendo de fome nas ruas, e ninguém se oferecer para alimentá-la?"

"E se um sujeito sem instrução e sem nenhuma habilidade prática não conseguir arrumar um emprego, quem irá ajudá-lo?"
Quem é contra o estado inchado é muitas vezes obrigado a se defrontar com esses questionamentos. Se for ingênuo e disser “Ah, isso não é problema meu!”, ou disser que não há nenhuma solução para tais situações, o estatista capitalizará politicamente.

E sairá de fininho, posando de vitorioso... a não ser que você lhe devolva as perguntas. Afinal, será que o sistema que ele defende consegue dar respostas satisfatórias às questões que ele fez? Por exemplo:
"A saúde pública atual consegue atender bem esse sujeito pobre do seu exemplo?"

"Os pobres estão sendo bem educados pela educação pública?"

"A previdência pública tem dado condições satisfatórias aos aposentados?"
Ora, o pior cenário que os defensores do estado imaginam que irá ocorrer em um cenário de liberdade já ocorre rotineiramente no cenário estatista que eles defendem! O estatismo, defendido pelo oponente, é parte vigente da sociedade atual, que é repleta de injustiças e atrocidades mesmo em um cenário onde pagamos um absurdo de impostos — e eles criticam nossas propostas por (supostamente) terem problemas que nem as deles solucionam.

Na verdade, não precisamos nos limitar a apenas devolver as perguntas feitas. A sugestão é que sejam lançados questionamentos para contrangê-los também.
"E se o Congresso aprovar uma lei injusta, o presidente sancioná-la e o Supremo Tribunal impingi-la?"

"E se o governo decretar que é proibido trabalhar em troca de um determinado valor salarial?"

"E se o governo proibir a concorrência em determinados setores da economia?"

"E se o governo quiser desarmar a população?"

"E se o governo for leniente com sequestradores, assassinos e grupos terroristas ideologizados?"

"E se o governo estipular que as empresas devem contratar de acordo com critérios de cor e preferência sexual, e não de competência?"

"E se o governo decretar que determinadas opiniões são proibidas, sendo passivas de encarceramento?"

"E se o governo estipular que apenas seus empresários favoritos podem receber subsídios e atuar em determinados mercados?"

"E se o governo resolver desapropriar moradores pobres para construir ruas, estradas ou complexos esportivos nesses locais, favorecendo suas empreiteiras favoritas?"

"E se o governo decidir encarecer a importação de produtos de qualidade?"

"E se o governo estipular regras e burocracias que dificultem sobremaneira o empreendedorismo?"

"E se o governo decretar que apenas os seus serviços de segurança e justiça podem ser utilizados? E se estes forem ruins?"

"E se os integrantes do governo praticarem corrupção? Quem irá puni-los, uma vez que os serviços de justiça foram decretados monopólio estatal?"

"E se o governo assumir o controle da educação, determinando os currículos das escolas e das universidades, tornando a população mais imbecilizada?"

"E se o governo assumir o monopólio da moeda e decidir inflacioná-la continuamente, destruindo a poupança dos trabalhadores?"

"E se o governo aumentar continuamente o confisco da renda dos cidadãos para repassar o butim à sua própria burocracia e a grupos de interesse politicamente bem organizados?"

"E se o governo me recrutar compulsoriamente e me enviar para uma guerra injusta, e eu sofrer uma morte horrenda e dolorosa?"

"E se aquele pobre para quem o governo dá esmolas resolver gastar todo o dinheiro com cachaça, cigarro e jogatina?"

"E se uma pessoa se entregar a um estilo de vida nada saudável e onerar a saúde pública?"

"E se o governo decidir encarcerar pessoas pelo simples fato de elas injetarem determinadas substâncias em seus próprios corpos?"

"E se uma pessoa, levada pela certeza de que a Previdência Social cuidará dela até sua morte e que o governo lhe dará todos os remédios necessários, se entregar a um estilo de vida pouco saudável e ter uma velhice inválida e sofrida?"

"E se o governo decidir que eu sou obrigado a financiar programas dos quais discordo moral e eticamente?"

"E se o governo decidir mandar para a cadeia todos aqueles que não lhe pagarem tributos?"
Note que, uma vez que você começa o jogo do "e se", é difícil parar de imaginar hipóteses. Pense em qualquer sistema político: garantimos ser capazes de gerar infinitas hipóteses desconcertantes para irritar seus defensores — muito mais do que eles pretendiam criar pra nós.

É essencial ressaltarmos que, enquanto os críticos da liberdade se reduzem a apenas inventar hipóteses ruins que poderiam ocorrer em um sistema sem coerção estatal, todos os nossos "e se" acima apresentados já são realidade em um sistema de coerção estatal. Todos eles já estão ocorrendo neste exato momento sob o sistema de governo que eles defendem. Por que somos nós que temos de ficar na defensiva ao advogar um sistema que se oponha a tudo isso? Eles é que têm de apresentar justificativas para o sistema atual. Nunca testemunhamos a ocorrência de uma sociedade libertária; vivemos em uma sociedade estatista. Quem defende o atual modelo, com a existência de um estado, é que tem a obrigação de responder de pronto a todas as perguntas acima. E então, só então, ele estará em posição de fazer perguntas

Sinceramente, o que há de tão reconfortante nessa garantia estatal? Mais ainda: o que há de tão reconfortante nessa garantia quando ela vem acompanhada de uma lista de inúmeras mazelas diariamente cometidas pelo governo?


Baseado no artigo do IMB

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